- 22/12/2014 07h44
- Brasília
Edição: Graça Adjuto
A
partir desta semana, hospitais e maternidades das redes pública e
particular passam a ser obrigados a fazer o chamado teste da linguinha
em recém-nascidos. A determinação foi criada pela Lei 13.002/2014. O
objetivo do exame é detectar se existe alguma alteração no chamado
frênulo, membrana que liga a língua à parte inferior da boca – também
conhecido como freio. A alteração pode gerar a popular língua presa.
A
comerciante Eliane Tobar descobriu que o filho mais novo, hoje com 1
ano, tinha o problema quando encontrou dificuldade para amamentar. O
diagnóstico foi feito um mês depois do nascimento do bebê. “Eu reclamei
para a doutora que na hora em que ele ia mamar, doía muito. A dor era
insuportável no braço. Ele mamava a cada 20 minutos, meia hora”.
A
fonoaudióloga e integrante da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia
Roberta Martinelli criou a metodologia para fazer a avaliação de bebês e
diagnosticar o problema. “No primeiro momento, o teste veio para
detectar a língua presa, que é quando esse fio está fixado mais para a
ponta da língua. Só se considera língua presa quando limita o
movimento”. Os problemas vão além da dificuldade na fala. No caso dos
recém-nascidos a alimentação pode ser prejudicada, já que afeta a
sucção. “Tem sido uma das maiores causas de desmame precoce. Ele [o
bebê] pode ter dificuldade de passar para a papinha porque tem
dificuldade de deglutição. Por volta de um ano e meio, pode ter
problemas no processo mastigatório também”.
A fonoaudióloga
lembra que o exame observa os aspectos físicos da língua, mas que outras
características também precisam ser avaliadas como, por exemplo, a
maneira como a criança mama e até mesmo o choro. “A gente observa
características do choro porque o bebê que tem essa língua presa sobe
mais as laterais do que a ponta da língua. Ela [a ponta] fica mais baixa
que as laterais”. No caso do filho de Eliane, a solução foi um
procedimento cirúrgico conhecido como pique. Um corte foi feito no freio
para que a língua pudesse ter mais movimento. Com anestesia local, a
cirurgia dura poucos minutos e logo em seguida a criança já pode ser
amamentada.
O filho mais velho de Eliane também foi diagnosticado
com a língua presa mas, diferentemente do caçula, já estava maior. A
mãe comenta a dificuldade que teve de alimentar o primeiro filho. “Foi
uma pena mesmo que eu não consegui amamentar, porque tinha leite mas não
conseguia. Ele não dava conta de engolir”. A cirurgia, nesse caso,
também foi recomendada.
Apesar de a lei ser considerada um avanço
em alguns aspectos, a pediatra Patrícia Salmona, que integra o
Departamento de Genética Clínica da Sociedade Brasileira de Pediatria,
acredita que é preciso considerar alguns pontos com relação ao
tratamento. Ela conta que existem graus diferentes de língua presa e,
por isso, o tratamento varia. “Nem todas têm a indicação do tratamento
do pique na língua. As que não têm indicação cirúrgica poderiam ser
mandadas sem necessidade [para cirurgia]”.
Patrícia lembra que, muitas vezes, não há consenso entre os profissionais que fazem o teste com relação ao procedimento cirúrgico. “A prevalência da língua presa gira em tono dos 15% mas, desses, nem 10% têm indicação de fazer o procedimento. Metade seria necessária e na outra metade fica a dúvida”. Ela explica que, muitas vezes, a criança precisa ser reavaliada e defende que o diagnóstico seja feito por profissionais habilitados.
Patrícia lembra que, muitas vezes, não há consenso entre os profissionais que fazem o teste com relação ao procedimento cirúrgico. “A prevalência da língua presa gira em tono dos 15% mas, desses, nem 10% têm indicação de fazer o procedimento. Metade seria necessária e na outra metade fica a dúvida”. Ela explica que, muitas vezes, a criança precisa ser reavaliada e defende que o diagnóstico seja feito por profissionais habilitados.
Para
a fonoaudióloga Roberta Martinelli, os profissionais precisam ser
treinados e é necessário adotar um protocolo para ajudar na padronização
do teste. “Enquanto não se tiver uma padronização, vão fazer no
‘achômetro’ e isso não pode. Estamos lidando com bebês. O protocolo só
indica para a cirurgia quando o caso é extremamente nítido. E esses
casos não podem sair da maternidade sem diagnóstico”.
Segundo a
assessoria do Ministério da Saúde, as diretrizes que trarão o
detalhamento para o diagnóstico estão sendo elaboradas pela Comissão
Nacional de Incorporação de Tecnologias e um grupo de trabalho formado
pela Coordenação-Geral de Saúde da Criança, diz a nota. Ainda conforme o
texto, a diretriz nacional trará recomendações sobre como fazer o
teste, e o ministério tem orientado os profissionais sobre a importância
da avaliação.
De acordo com a assessoria do ministério, mesmo sem a regulamentação, a aplicação da lei está valendo e a norma vai reforçar o que já é feito hoje. A avaliação e a cirurgia são oferecidas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), assim como outros testes importantes como o do pezinho, da orelhinha e do olhinho.
De acordo com a assessoria do ministério, mesmo sem a regulamentação, a aplicação da lei está valendo e a norma vai reforçar o que já é feito hoje. A avaliação e a cirurgia são oferecidas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), assim como outros testes importantes como o do pezinho, da orelhinha e do olhinho.
O
deputado federal autor da lei, Onofre Augostini (PSD-SC), informa que o
Ministério da Saúde será o responsável pela fiscalização e acredita que
com a obrigatoriedade, muitos problemas serão evitados. “Vai evitar que
quando a criança fique adulta, se ela apresentar a deficiência chamada
linguinha presa, tenha dificuldade para falar, para amamentar”.
Martinelli
diz que agora a expectativa é de que as diretrizes do ministério sejam
logo elaboradas. “O que queremos é que não demore muito. Quanto mais
demora, mais as maternidades vão demorar a se adequar”.
Para
Patrícia Salmona, a grande vantagem da lei é que a partir de agora mais
crianças poderão ser diagnosticadas. “Não é uma frequência tão baixa.
Então, fazer uma triagem é interessante. Seremos o primeiro país a fazer
essa triagem”. E completa: “Vem para somar, como uma ferramenta a mais
para o médico”. Ela observa que caso a cirurgia seja necessária, quanto
menor a criança, mais rápida é a recuperação. “A cirurgia seria
praticamente indolor. Não é uma cirurgia grande, mas logo que nasce é
uma coisa ínfima”.
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