André Maria da Conceição, 41 anos, já ganhou uma “bolada” no Roda a
Roda, no programa de Sílvio Santos; saiu de Niterói para Rio das Ostras;
foi para o Açu,em São Joãoda Barra, buscando emprego no Porto; passou
de trabalhador e pai de família
a morador em situação de rua; e hoje, em Campos, tem uma pequena
empresa, a Ligeirinho Reparos. Com a empresa, que faz subempreitadas em
obras, André está conseguindo empregar ou ajudando a encaminhar para o
mercado de trabalho pessoas que, como ele, acabaram sem nada, na rua.
A empresa de André já ficou responsável por emboçar (chapar paredes com argamassa) dois andares e toda a parte externa do prédio de um hospital, no ano passado. Na época, ele empregou quatro pessoas que estavam na Casa de Passagem — unidade de acolhimento institucional de alta complexidade, para atendimento a pessoas em situação de rua. Das pessoas que ele empregou, três retornaram para suas famílias, em suas cidades.
Depois que abriu a Ligeirinho, André passou a visitar semanalmente o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (CentroPop) e a Casa de Passagem, unidades da secretaria da Família e Assistência Social, onde ele também foi assistido. Nesses locais, ele busca pessoas que desejam e tem condições de trabalhar, conforme a análise dos técnicos das unidades. Ele ainda acompanha as vagas disponibilizadas no Balcão de Empregos.
— Quando fui para a Casa de Passagem, ano passado, consegui emprego num posto de gasolina. Saía da Casa só para trabalhar. Fui juntando meu salário e, um dia, vi uma casa fechada e perguntei a dona, que morava ao lado, se podia alugar. Ela falou que a casa tava ruim para morar, que precisava de reforma, mas eu insisti. Paguei adiantado dois aluguéis e fui fazendo reparos na casa, porque sempre fui bom como pedreiro e emboçador. Ela não me cobrou mais aluguel. Saí do posto para trabalhar na obra do hospital. Gostaram do meu trabalho e falaram para eu abrir uma empresa. Me contrataram para fazer um andar e acabei fazendo dois e a parte externa. Em dois meses passei de pessoa em situação de rua para uma renda de R$ 10 mil, pagando salário para quatro pessoas que eu conhecia do Centro Pop e Casa de Passagem. Uma delas, infelizmente, quando ganhou o primeiro salário voltou pra rua, para as drogas — contou.
“A sociedade discrimina, não dá trabalho”
André fala das dificuldades que sua empresa passa e as associa à postura discriminatória da sociedade. “Tem gente que diz, e não é verdade, que Campos é terra de mendigo. Moradores de rua e andarilhos falam bem de Campos porque tem estrutura boa de atendimento para população de rua, não há violência nos albergues. Campos tem toda estrutura para reabilitar pessoas que estão na rua, mas a sociedade discrimina, não dá trabalho. Essas pessoas não são bichos. Tem gente que fica na rua para usar drogas, mas tem gente que acaba dormindo em papelão por falta de opção. Na Casa de Passagem, conheci um cara que falava seis línguas, já tinha viajado pelo mundo, conhecia a Itália. Ele foi assistido pela Prefeitura, virou garçom, conseguiu sair da rua e voltou pra casa, no Sul. Há 10 anos André ganhou no Roda a Roda uns R$ 20 mil. “Era um dinheiro bom na época. Ouvi falar de Rio das Ostras e resolvi ir morar lá. Comprei um carro também. Fiquei em Rio das Ostras uns seis anos e virei um ‘dicto’, um escravo das drogas. Nem carro eu tinha mais. Ouvi falar de empregos bons no Porto do Açu e resolvi ir morar lá. Mas nem casa tinha no lugar para alugar. Consegui trabalho e ficava no alojamento da empresa, mas todo mundo ficou sem emprego. Perdi meus documentos no alojamento”.
André conta que veio a pé para Campos. Quando o dinheiro acabou, dormiu na rodoviária. Até que um outro morador de rua o levou ao CentroPop.
Proteção social para ajudar as pessoas
Por trabalhar com rapidez, apelidaram André de ‘ligeirinho’ – daí o nome de sua empresa. No momento, ele trabalha como funcionário em uma grande empresa, com obras em diversos pontos de Campos e região. Na última semana ele encaminhou para o trabalho um acolhido da Casa de Passagem, que veio para Campos do Espírito Santo. O secretário de Família e Assistência Social, Geraldo Venâncio, quis conhecer André e ouviu toda sua história. “Ele é um dos casos de sucesso que verificamos na assistência à população em situação de rua. Diariamente, a Proteção Social Especial tem auxiliado pessoas que, por alguma infelicidade, acabam na rua. Temos diversos casos de pessoas que foram empregados e outros de resgate de vínculos familiares. A Prefeitura tem intensificado os serviços prestados a esse público. Separamos o CentroPop da Casa de Passagem, que agora tem uma sede ampla, com capacidade para 30 leitos. Equipes do CentroPop fazem todos os dias o serviço de abordagem social. Mas o André, além de ter conseguido sair dessa situação, é solidário e quer ajudar os outros também. É um ótimo exemplo”.
A diretora de Proteção Social Especial, Ana Alice Alvarenga, explica que, além de atenderem às necessidades imediatas do público específico, os serviços atuam para reverter a situação dessas pessoas, que possuem a marca da exclusão social. “Alimentação, higiene, acolhimento, documentação, encaminhamento para cursos, trabalho, toda a atenção é prestada. O objetivo é dar cidadania a essas pessoas e resgatar sua estrutura, os vínculos com a família”.
Em janeiro 53 pessoas estavam em situação de rua em Campos. O número oscila mês a mês, mas, do total, 17 eram de Campos e 36 de outras cidades. Desses, 20 não têm família; 33 são dependentes químicos. A maioria é do sexo masculino.
ANFotos: divulgação
Fonte-Folha da manhã
A empresa de André já ficou responsável por emboçar (chapar paredes com argamassa) dois andares e toda a parte externa do prédio de um hospital, no ano passado. Na época, ele empregou quatro pessoas que estavam na Casa de Passagem — unidade de acolhimento institucional de alta complexidade, para atendimento a pessoas em situação de rua. Das pessoas que ele empregou, três retornaram para suas famílias, em suas cidades.
Depois que abriu a Ligeirinho, André passou a visitar semanalmente o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (CentroPop) e a Casa de Passagem, unidades da secretaria da Família e Assistência Social, onde ele também foi assistido. Nesses locais, ele busca pessoas que desejam e tem condições de trabalhar, conforme a análise dos técnicos das unidades. Ele ainda acompanha as vagas disponibilizadas no Balcão de Empregos.
— Quando fui para a Casa de Passagem, ano passado, consegui emprego num posto de gasolina. Saía da Casa só para trabalhar. Fui juntando meu salário e, um dia, vi uma casa fechada e perguntei a dona, que morava ao lado, se podia alugar. Ela falou que a casa tava ruim para morar, que precisava de reforma, mas eu insisti. Paguei adiantado dois aluguéis e fui fazendo reparos na casa, porque sempre fui bom como pedreiro e emboçador. Ela não me cobrou mais aluguel. Saí do posto para trabalhar na obra do hospital. Gostaram do meu trabalho e falaram para eu abrir uma empresa. Me contrataram para fazer um andar e acabei fazendo dois e a parte externa. Em dois meses passei de pessoa em situação de rua para uma renda de R$ 10 mil, pagando salário para quatro pessoas que eu conhecia do Centro Pop e Casa de Passagem. Uma delas, infelizmente, quando ganhou o primeiro salário voltou pra rua, para as drogas — contou.
“A sociedade discrimina, não dá trabalho”
André fala das dificuldades que sua empresa passa e as associa à postura discriminatória da sociedade. “Tem gente que diz, e não é verdade, que Campos é terra de mendigo. Moradores de rua e andarilhos falam bem de Campos porque tem estrutura boa de atendimento para população de rua, não há violência nos albergues. Campos tem toda estrutura para reabilitar pessoas que estão na rua, mas a sociedade discrimina, não dá trabalho. Essas pessoas não são bichos. Tem gente que fica na rua para usar drogas, mas tem gente que acaba dormindo em papelão por falta de opção. Na Casa de Passagem, conheci um cara que falava seis línguas, já tinha viajado pelo mundo, conhecia a Itália. Ele foi assistido pela Prefeitura, virou garçom, conseguiu sair da rua e voltou pra casa, no Sul. Há 10 anos André ganhou no Roda a Roda uns R$ 20 mil. “Era um dinheiro bom na época. Ouvi falar de Rio das Ostras e resolvi ir morar lá. Comprei um carro também. Fiquei em Rio das Ostras uns seis anos e virei um ‘dicto’, um escravo das drogas. Nem carro eu tinha mais. Ouvi falar de empregos bons no Porto do Açu e resolvi ir morar lá. Mas nem casa tinha no lugar para alugar. Consegui trabalho e ficava no alojamento da empresa, mas todo mundo ficou sem emprego. Perdi meus documentos no alojamento”.
André conta que veio a pé para Campos. Quando o dinheiro acabou, dormiu na rodoviária. Até que um outro morador de rua o levou ao CentroPop.
Proteção social para ajudar as pessoas
Por trabalhar com rapidez, apelidaram André de ‘ligeirinho’ – daí o nome de sua empresa. No momento, ele trabalha como funcionário em uma grande empresa, com obras em diversos pontos de Campos e região. Na última semana ele encaminhou para o trabalho um acolhido da Casa de Passagem, que veio para Campos do Espírito Santo. O secretário de Família e Assistência Social, Geraldo Venâncio, quis conhecer André e ouviu toda sua história. “Ele é um dos casos de sucesso que verificamos na assistência à população em situação de rua. Diariamente, a Proteção Social Especial tem auxiliado pessoas que, por alguma infelicidade, acabam na rua. Temos diversos casos de pessoas que foram empregados e outros de resgate de vínculos familiares. A Prefeitura tem intensificado os serviços prestados a esse público. Separamos o CentroPop da Casa de Passagem, que agora tem uma sede ampla, com capacidade para 30 leitos. Equipes do CentroPop fazem todos os dias o serviço de abordagem social. Mas o André, além de ter conseguido sair dessa situação, é solidário e quer ajudar os outros também. É um ótimo exemplo”.
A diretora de Proteção Social Especial, Ana Alice Alvarenga, explica que, além de atenderem às necessidades imediatas do público específico, os serviços atuam para reverter a situação dessas pessoas, que possuem a marca da exclusão social. “Alimentação, higiene, acolhimento, documentação, encaminhamento para cursos, trabalho, toda a atenção é prestada. O objetivo é dar cidadania a essas pessoas e resgatar sua estrutura, os vínculos com a família”.
Em janeiro 53 pessoas estavam em situação de rua em Campos. O número oscila mês a mês, mas, do total, 17 eram de Campos e 36 de outras cidades. Desses, 20 não têm família; 33 são dependentes químicos. A maioria é do sexo masculino.
ANFotos: divulgação
Fonte-Folha da manhã
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