Com a prisão do prefeito de São Francisco de Itabapoana (SFI), Beto
Azevedo (PMDB), pela Polícia Federal (PF), durante a Operação Renascer, e
o fortalecimento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apurou
as denúncias de fraudes na Secretaria Municipal de Saúde, vereadores de
SFI esperam nos próximos dias instaurar o processo definitivo de
cassação do peemedebista, que se encontra recolhido no Presídio Carlos
Tinoco da Fonseca, em Campos. O rombo é de cerca de R$ 2,5 milhões,
segundo a PF. Na sessão da próxima terça-feira, representantes dos movimentos sociais
como associações de moradores, sindicatos, entidades de classe, clubes
de serviço, além de estudantes, prometem ocupar literalmente a Câmara
Municipal e exigir que os vereadores afastem definitivamente o prefeito.
Para isso, irão tingir o rosto, revivendo o movimento “caras-pintadas”,
que levou o impeachment do ex-presidente Collor.
O vereador Fábio das Neves (PSDB), o Fabinho do Estaleiro, presidente
da CPI, disse que o destino do município está nas mãos da Câmara. “É
inaceitável o que ocorre hoje. Se os vereadores aceitarem o que está
acontecendo, estarão sendo coniventes com tudo isso, até mesmo suspeitos
de participação nesses crimes. Espero que todos tenham consciência da
gravidade da situação e da responsabilidade de cada um”, disse.
Na noite de sexta-feira, os vereadores que integram a CPI tiveram uma
prolongada reunião para tratar do processo de afastamento do prefeito
Beto Azevedo. “A população hoje sabe que a CPI não se trata de uma
questão de disputa política porque a própria Polícia Federal veio
confirmar o que vínhamos denunciando na Câmara. O município atravessa um
momento grave, com um prefeito e secretários presos, além de outros que
eram sócios do próprio Beto num negócio que desviava verbas da
prefeitura”, acrescentou Fabinho.
O processo de afastamento do prefeito deve começar a partir da
instalação de uma nova Comissão Processante (CP), na Câmara. Além da
CPI, há uma CP em curso no Legislativo criada para investigar as fraudes
na prefeitura, mas que é composta por uma maioria que dava sustentação a
Beto. “Creio que a CP anteriormente instalada já tenha seu esgotado seu
prazo. Então, deveremos instalar outra para afastar o prefeito em
definitivo, já que a CPI não tem esses poderes”, explicou Fabinho.
Além de Fabinho do Estaleiro, outros vereadores que integram a CPI e
que querem o afastamento do prefeito em definitivo são Renato de Buena,
Adriana Coelho, Jamilton Chaô e Jarédio Azevedo. Os vereadores que
integram a bancada de apoio ao governo anterior são o presidente da
Câmara, Florentino Cerqueira, o Tininho, Claudio Henriques, Kdemar
Cordeiro, o Caboclo, e Sérgio Elias da Silva.
Denúncia - O prefeito em exercício, Frederico
Barbosa Lemos (PR), denunciou o secretário de Administração do governo
anterior, Cláudio Otero, cunhado do prefeito que saiu, pelo sumiço de um
programa de computador onde se encontrava a relação dos servidores e
todos dados para o pagamento da folha salarial do funcionalismo. Além
disso, a equipe do novo prefeito encontrou no setor talões com vários
cheques assinados em branco por Beto Azevedo.
Lancha e carros de luxo apreendidos
A operação da Polícia Federal (PF) vinha sendo deflagrada desde o ano
passado, quando ocorreu uma denúncia à Delegacia da PF/Campos, em
novembro, a respeito de um esquema de desvio de dinheiro do SUS, em SFI.
Na operação foram apreendidos vários bens, como quatro automóveis de
luxo, no valor total de R$ 800 mil, além de uma lancha que se encontrava
em Cabo Frio, avaliada em R$ 600 mil.
Os veículos e a embarcação pertencem a Beto Azevedo e ao proprietário
da Clínica Fênix, Fabel Santos Silva. Segundo a PF, o estabelecimento
vinha sendo usado desde 2009 para desvio de verbas através de exames
laboratoriais pagos e não realizados. Em um mês, a Prefeitura pagou à
clinica com verbas do Sistema Único de Saúde (SUS) faturas referentes a
cerca de 35 mil exames, num município cuja população é de pouco mais de
40 mil habitantes.
Além de Beto Azevedo, foram também presos Fabel e sua mulher Juliana
Souza Meireles, também sócia da clínica, e ainda o secretário de Saúde
do município, Cristiano Salles e o ex-secretário Fabiano Córdoba
Guimarães. Beto foi preso num apartamento de sua propriedade, no
Edifício Luxor, na Pelinca, área nobre de Campos.
Todos os presos estão sendo denunciados por corrupção ativa e
passiva, concussão (ato de exigir para si, dinheiro ou vantagem em razão
da função ou cargo), além de formação de quadrilha.
Prefeito interino deve anunciar alguns secretários nesta segunda
O prefeito interino Frederico Barbosa Lemos (PR), que assumiu o cargo
na última quinta-feira, confirmou que exonera todos os secretários e
detentores de cargos de confiança do governo anterior. Ele deve anunciar
amanhã alguns nomes que irão compor o seu secretariado. Outra medida
foi a suspensão de todos os pagamentos de compromissos com o governo
anterior. Uma auditoria já está sendo realizada nas contas da
prefeitura.
Rompido com Beto há quase três anos, Frederico Barbosa Lemos diz que
nunca teve acesso à prefeitura e acompanhava o que vinha ocorrendo no
governo através da imprensa e dos vereadores da oposição, alegando estar
rompido há vários anos com Beto Azevedo. Ele chegou a dizer que Beto
esvaziou seu gabinete onde não havia sequer uma secretária. “Até mesmo a
chave da sala nem sei por onde anda”, frisou.
Divergências e o rompimento entre prefeito e o vice
As divergências políticas e administrativas entre Frederico e Beto
Azevedo culminaram com a exoneração da secretária municipal de Promoção
Social Fracimara Barbosa Lemos, esposa do prefeito interino. Antes, no
entanto, Barbosa Lemos vinha fazendo pesadas críticas à administração de
Beto, em seu programa de rádio, na Campos Difusora. “Eu não concordava
com muitas coisas que vinham ocorrendo na prefeitura e ele não vinha
permitindo que eu participasse do governo. No final das contas, busquei o
meu caminho, e ele seguiu o dele. Mas foi até bom para mim”, declarou.
No jogo de interesses do grupo que vinha controlando o município,
onde predominava uma escancarada mistura entre público e privado, uma
coisa é certa. Observadores políticos da cidade dão como inevitável o
desgaste dos vereadores da bancada governista que sustentaram o governo
de Beto.
As evidências e indícios de enriquecimento ilícito de alguns membros
do governo passado contrastam com um quadro sombrio de um município onde
os indicadores sociais estão entre os piores do Estado do Rio de
Janeiro. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) se encontra em posição
sofrível, precisamente a penúltima entre todas as cidades fluminenses,
apenas abaixo de Varre Sai.
Fonte: O Diário